Tu me desejastes como um remédio para uma doença incurável.
Tu quisestes o meu riso para papar os teus silêncios.
Tu quisestes meus planos para forrar os teus vazios.
Tu quisestes minhas certezas para calar tuas dúvidas.
Mas quando não fui nem cura, nem fonte de riso
e nem planejei, tampouco fui certeiro,
tu me chamastes de tédio lamentável.

Marcado assim fiquei,
com a pele abrasada pelo ferro frio dos amores mentirosos,
e, no desespero da loucura, cunhei a teoria dos amores parasitas,
e dei a ela o teu nome,
teu nome, tua forma,
teus pensamentos ligeiramente tristes.

A teoria define que parasitas são os amores
que vivem do amor alheio.
Que matam, cruelmente, até a imagem de Deus. E abastecem-se, e vão embora, e morrem de fome às vezes, e suplicam por outra vítima. E Você, que em teoria me amou,
vomitou quando precisei de amor.

Aí, você cansou.

E ainda assim, na tolice profunda dos parasitados,
te peço, em sonho, soluços e oraçÕes, que fique.
E ainda assim me culpo por não ter te alimentado o bastante.
Por não ter sido muitos. Por não ter sido outro,
ou outro, ou outro, ou outro.

E talvez essa seja minha doença.
Ou só mais uma terça-feira
em que sonhei de novo
com a minha parasita favorita.

– Painting: O Pesadelo dos Gatos, 1890, de Louis Wain