Gabriel, ao beber da fonte do amor, imaginou-se morrendo
de mãos dadas com a Sara,
de idade, morrendo de saudade.
Naquele um milésimo de segundo sem ela,
sem Sara, morrera em plena solitude.
Hoje, o futuro dela é festa. O dele, desalinho.
O Gabriel, esse coitado, vai morrer é bem sozinho.
Portanto, Gabriel pensa em deixar as janelas sempre bem abertas
para que o fedor do morto enfim atraia os vizinhos.
Enterrarás os seus pais,
e chorarás pela ordem natural das coisas.
E perguntarás se seria esse o choro mais inútil dos choros?
O choro pela ordem natural das coisas?
Mas por que dói tanto a ordem natural das coisas?
Seria melhor talvez chorar pela morte sem a Sara,
ela também não chorará por Gabriel,
e talvez chorar por outras coisas
tenha um valor sentimental.
Mas Sara morrerá com outro, num futuro
e ele chorará naquele um segundo
que era pra ser de Gabriel.
Talvez seja essa a benção máxima da vida:
morrer sozinho, Gabriel, sem incomodar ninguém
e os outros que se virem.
Essa é a ordem natural de Gabriel.