Pousou em meu peito uma borboleta,
como quem se acomoda num sofá antigo,
onde tudo já se espera.

Não houve pedido,
nem promessa.
Apenas o instante.

Eu, terra serena, respirei.
E do fundo do chão quieto,
nasceu um girassol.

Mas eu não o plantei.
Veio.
Como vêm os nomes esquecidos
no meio do sonho.

Levantou-se com lentidão,
tocando o céu sem urgência,
as pétalas se abrindo
em gestos que não querem fim.

E o girassol, leve como quem sabe partir,
ergueu a borboleta
e ela voou.
A luz encontrou sua asa.

E eu fiquei,
com o peito ainda flor,
com o tempo ainda aberto,
com o gesto ainda inteiro.

Há quem conte outras passagens,
quando o dia pesa mais que a palavra.

Às vezes, pousa a borboleta
e tudo permanece em silêncio.
O chão respira seco,
e o milagre dorme.

Às vezes, o girassol se apressa,
cresce demais,
se alça ao alto como quem esquece o próprio início —
e toca o sol antes da hora.

A asa se desfaz devagar,
queima, morre,
e a lembrança toma o lugar do voo.

Sara, teus olhos não viram,
mas tudo foi para ti.
O girassol, o sopro,
o jardim inteiro do meu peito.

Mesmo sem leitura,
houve verso.
Mesmo sem retorno,
houve raiz.

Cada pétala foi poema.
Cada estrofe, foi entrega.

E se mais nenhuma borboleta pousar,
a terra segue aqui.
Sendo.
Sobrevivendo.
Vivendo entre as sementes.

Tentando crer que o pouso do amor
é coisa que não arde,
mesmo depois do fim.