Não és metade, nem sombra de outra.
Não és lembrança em nome alheio,
nem pronúncia oculta nas dobras do tempo.
Tu és Sara,
e inteira te derramas
sobre mim.
És o primeiro passo da alvorada,
a lâmina que separa sonho de vigília,
a sede que o vinho não sacia.
Tu vens sem preces, sem coroa, sem culpa.
Não és santa nem flor —
és o punho que fere e cura.
Em ti, o amor não é promessa,
é incêndio lento,
é carne viva,
é verdade nua como pedra ao meio-dia.
Teu nome ecoa e permanece.
Se espalha e firma-se
na tábua no peito
como lei bíblica,
como Divino mandamento.
És o que Maria sussurrava
sem saber dizer.
O que as outras buscavam
sem reconhecer.
Sara, tu és a última palavra
do poema que ninguém ousou terminar.