Fatias

Uma mulher eventualmente sentará ao meu lado
e vai, numa inocência moribunda, indagar
se já amei.
E eu vou, então, responder que sim
e nunca mais irei.

E ela vai ficar curiosa, e me irritar profundamente.
Terei que invocar das analogias mais imundas
que tenho, e fazê-la entender que amor e fome
são irmãs, e uma existe na dependência da outra
e então amamos e passamos fome, e eventualmente
passamos fome de amor.

E essa pobre coitada que sentou ao meu lado
vai entender que já morri de fome, e hoje
sirvo-me da poesia e da filosofia de botequim.

Então, pobre coitada, vai ter que me responder
como é que a outra, que veio antes,
comeu de tudo que eu tinha, e ainda
morreu de fome?