Desencontro de Verão
É verão de dois mil e vinte e dois,
e nos desencontramos.
Parceiros? Nunca fomos parceiros.
Fomos desastrados e desafortunados
o suficiente para nos encontrarmos
e nos enganarmos
por um punhado de tempo que não volta mais.
E eu, em minha mesquinhez e tolice,
tirei de ti aquilo que tinhas de mais precioso.
E eu, em minha solidão e insegurança,
tomei tuas rédeas e te fiz animal de carga,
a carregar o peso da minha alma
e afundar no lamaçal das vidas mal vividas.
Não é romance, não é drama,
não se encaixa nos matinês,
nem nas livrarias de Vancouver,
não tem final feliz, não é trilogia Antes,
não é minimalista. É absurdo, é irrealista,
é mil vezes erro, e erro mil vezes é.
É desencontro de verão,
é desencontro de pessoas e suas coisas.
E essas coisas são mesquinhas e fedorentas.
E essas pessoas são mesquinhas e fedorentas.
E você é fedorenta. Sua alma é fedorenta.
E eu sou mais ainda. Minha alma é mais ainda.
E depois de escrever isso, eu choro tanto.
Minha alma chora tanto.
As lágrimas deslizam no chão do apartamento 708.
E os vizinhos de baixo reclamam em voz alta e,
depois, baixinho, sentem pena de mim.
E você, sente pena de mim?
Eu, sim, sinto muita pena de ti.
E espero que a bile da vida vá estragando,
aos pouquinhos, e definhando vá o corpo
em que habito.
E que ninguém mais sinta pena de mim.
E que eu nunca mais sinta pena de ninguém.
E que eu nunca mais sinta pena de ti.
– Créditos da pintura: Kimberly Schultz