No tanque de vidro do céu,
meu reflexo flutua, esperando
que a fenda se abra
e tudo escorra para dentro do nada.

Os frascos — pequenas luas —
estão alinhados no parapeito do horizonte,
cada um guardando um punhado
de areia arrancada da última praia.

Na química secreta do universo,
aprendi a destilar um silêncio espesso.
Ai, que ciência inútil.

Preciso que o vento me encontre.
Mas o vento, hoje, é extremamente gelado.
Seria esse o sinal cósmico de que já me tornei
uma supernova desleixada, suspensa,
à espera da morte do universo?

E para quem gritaria, eu, em socorro?
Ao tronco onde dormem os pássaros?
Às pedras, preciosas e impreciosas?
Àquele rosto formado por centenas de constelações
até hoje veneradas por humanos, deuses, e outros?

Os amigos etéreos vivem em casas de vidro,
não suportariam ver-me quebrar.
O trabalho é um porto em Aldebaran que nunca existiu.
Nada serve. Nada.

Chove muito em Aldebaran, varrem-se as gotículas de leite
da via láctea, varrem-se os litros de lágrimas
que manifestam um oceano
vasto nas pinturas distantes de galáxias não nomeadas.
As palavras nadam como vermes parasitas que
nutrem-se da luz.
Melhor apressar a chegada inegável da noite.

E vão-se uma, duas, três luas,
e apagam-se as estrelas, uma por uma,
até que minha pele se dissolva
em átomos, quarks, e não sei o que lá.

Num salto, já são sete milhões de anos depois,
e o deserto ainda rói os ossos
deixados pelos abutres, e as chuvas
ainda me lavam por dentro, e os gritos
se afogam na fenda cristalina do eco
das existências vegetais,
débeis e obstinadas.

E me manifesto. E então devolvo
tudo à terra e coro,
e planto uma última semente,
frágil, teimosia,
e espero vê-la crescer
mais uma vez.

“Vibrações do Universo, A brilhante e solitária estrela”. Pintado por Ararat Petrossian-diptic.