O Banquete
No banquete sentavam-se os magos, com suas magias esvaziadas,
os alquimistas e suas fórmulas de esperança extraviada,
os filósofos inertes diante das próprias interrogações,
e os assassinos compartilhando pão com suas vítimas esquecidas.
Todos conversavam entre si, como se a existência fosse diálogo.
Embora nenhum deles houvesse me esperado, eu vim.
Cheguei com o atraso próprio dos que jamais pertencem.
Sentei-me na poltrona de espinhos antigos – já macios como o hábito.
Sentei-me com minha dor despersonalizada.
De alma fatigada e olhar irremediável,
eu observava os restos, as migalhas as ideias,
copos de intenções vazias, garrafas de promessas vertidas.
Onde um dia pulsaram corações, havia apenas vestígios de afetos.
Nos olhares o verniz morno do julgamento oculto.
Meus apelos por socorro dissolviam-se no ar
como o último eco de uma vontade que já não me pertence.
Perdiam-se entre os versos de um poeta alheio,
que declamava para ninguém
e, ainda assim, era presente.
Ele declamava como se o tempo fosse cúmplice
e não notava que, no canto mais desabitado da mesa,
eu estava não inteiro mas também presente.
Aqueles versos, outrora aquecido por lampejos de ser,
tornava-se lentamente um espaço de ausência:
as cores feneciam como folhas de um outono ontológico,
minha carne se dissolvia na irrelevância,
e o que restava de mim era apenas o esqueleto um olhar
tristemente lúcido.
Ficavam
os magos e suas ilusões fatigadas,
os alquimistas e seus erros sublimes,
os filósofos e seus labirintos inacabados,
os assassinos e o silêncio cúmplice das suas vítimas.
– Créditos da pintura: “O Banquete” de Joshua Flint, 2016.