O Ódio das Coisas

Àqueles que têm ódio das coisas mais mundanas
eu os entendo.
Também odeio as coisas,
todas as coisas.

Odeio minha voz,
quando a ouço, me dá calafrios.
Odeio minha mente
e seus pensamentos impuros,
esquizofrênicos, muitas vezes amaldiçoados.
Odeio meus olhos
e suas incapacidades de enxergarem no mundo
o não ódio das coisas.

Odeio as ruas lavadas de um domingo em branco.
Odeio o brilho de vitrines que não me querem.
Odeio o tilintar exato do relógio
como se o tempo tivesse direito de seguir.

Odeio a paz vendida nos outdoors,
os sorrisos de pasta de dente,
a maciez dos lençóis que nunca me abraçam,
as maçanetas que giram
para quartos vazios.

Mas, acima de tudo, odeio o ódio
porque ele me faz escrever.
E escrevendo, amo.
E amando, perdoo.
E perdoando, torno-me aquilo que odeio:
coisa.
das coisas.
entre as coisas.

– Créditos da Pintura: “Chinatown, Nova Iorque, Estados Unidos.”